Os apaixonados pelo jogo de videogame Fifa tiveram uma amarga decepção
na semana passada. A produtora Electronic Arts anunciou o corte dos
clubes brasileiros da versão 2015, em notícia que caiu como uma bomba
entre os usuários do principal software de futebol do planeta. Mas o que
diabos ocorreu para a EA simplesmente limar os times do país? Na semana passada, uma fonte afirmouque os clubes, mesmo sem estarem no jogo, receberiam da EA pagamentos por participação até 2018.
A reportagem, a partir daí, apurou que uma falha nos contratos entre a
produtora e as agremiações não deixava claro quem pagaria os direitos de
imagem dos jogadores que iam para o console Fifa. Assim, alguns atletas
perceberam a lacuna e, por meio de um advogado, reinvindicaram seus
direitos.Não apenas no jogo da EA, mas também com os softwares de
futebol da Konami, Game Loft e da Sega, todas acionadas judicialmente
por falhas nas negociações. Justamente por isso a Konami alterou seu
contrato com os clubes, passando a responsabilidade pelo direito de
imagem dos jogadores às agremiações, mantendo assim os brasileiros na
versão 2015 do Pro Evolution Soccer.
Representados pelo advogado
Leonardo Laporta, 230 procurações em nome de mais de 300 jogadores foram
encaminhadas às empresas desde o fim do ano passado, e outras 740 ações
chegarão nos próximos dias, de acordo com o representante jurídico
responsável pelos processos. Assim, mais de mil futebolistas brasileiros
devem brigar na Justiça por direitos nas participações nos consoles
antigos e atuais.
"Em dezembro, notifiquei as empresas pedindo
providências. Em fevereiro assinamos ajuste de conduta onde elas trariam
propostas para composição de valores em cinco meses. Mas não trouxeram
valor nenhum e não renovamos o compromisso de não entrar com ação,
conforme estabelecemos antes. Por isso, tiraram os brasileiros do jogo",
Paulo Baier, Aloisio Boi Bandido, Thiago Ribeiro, Jonathan (lateral
ex-Santos), Felipe (goleiro), Marcelo Lomba, Leonardo Silva, Pierre,
Diego Tardelli, Marcos Assunção, Dinei, Aranha, Deivid, Juan (Vitória),
Lincoln, Valdomiro, Igor, Leonardo Silva, Fahel, Rafael Miranda, Roberto
Tigrão, entre outros, são alguns dos clientes do advogado que move as
ações relativas a direitos de imagem. A diretoria da EA na América de
Norte foi pega de surpresa no fim do ano passado com os processos.
"Na
notificação inicial o termo foi o seguinte: ou paguem ou tiro da
prateleira. Aí conversamos, e no mês de janeiro não chegamos a acordo e
assinamos um ajuste de conduta para não encerrarmos tratativas e não
encerrar conversas no período. Não trouxeram proposta, e aí o que
acontece? Para não tirar jogo da prateleira, com os jogos antigos
sobraram ação para pedir valor indenizado do passado", determinou
Laporta.
O erro, portanto, era na negociação das produtoras com os
clubes, já que alguns deles possuíam "falhas" nos contratos dos
direitos de imagem dos atletas. Uma parte dos times colocava a
exploração dos mesmos em álbuns de figurinhas, mas se esquecia de
mencionar jogos de videogame. Com as ações na Justiça, a EA se complicou
e não conseguiu resolver a tempo de lançar o console 2015. "O processo
de licenciamento dos jogadores do Brasileiro sofreu mudanças", avisou,
em comunicado.
No caso de jogadores europeus, quem dá a
autorização para utilização dos atletas de todos os clubes é a FIFPro, a
Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol. No
Brasil, não existe qualquer coisa do tipo que possa auxiliar nas
tratativas. "Nesse caso, nós discutimos direito de imagem. E isso no
Brasil é irrenunciável. Portanto, necessitaria da autorização individual
de cada um. A Panini, por exemplo, tira foto e paga individualmente por
jogador nos álbuns", explicou o advogado Leonardo Laporta.
"Eu
tenho amplo conhecimento na área de direito esportivo das legislações
italiana, espanhola, portuguesa... Todas as entidades nacionais nesses
casos têm permissão legal e autorização estatutária para negociar esse
direito. E isso não existe e não pode existir no Brasil, não tem como.
Com base nisso a FIFPro dá autorização para jogadores do mundo inteiro,
mas no Brasil, como não tem validade, notifiquei as empresas com jogos
desde 2008 e até hoje, pedindo indenização do passado e providência
quanto aos jogos atuais", explicou Leonardo Laporta.
Tanto a EA
quanto a Konami e as demais produtoras não tinham conhecimento sobre
essa "brecha" baseada no jurídico brasileiro. Portanto, acabavam
cometendo deslizes. Como no Fifa 2011, quando o Internacional pediu mais
dinheiro por ser o atual campeão da Libertadores (2010) e ficou de
fora. Em seu lugar, em contrapartida, entrou o colorado Porto Alegre,
com exatamente os mesmos atletas do elenco do Inter, mas uniforme, nome e
distintivo distintos. Nenhum dos jogadores, contudo, autorizou a
participação no console.
"A Konami fala no mercado que vai lançar
os jogos, só que as entidades internacionais dão autorização em nome das
entidades associadas. E já ressalvo, essa autorização não se estende e
não se confunde com os direitos dos jogadores. O clube autoriza a usar
símbolo do clube. As produtoras não utilizam jogadores com autorização
do clube, e sim com entidades de representação dos jogadores. Tanto que o
Figueirense, por exemplo, uma vez saiu no jogo como Florianópolis com
os jogadores reais e sem o símbolo", concluiu o advogado Leonardo
Laporta.

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